Em nome do amor que possuo pelos animais, eu fiz ano passado meu trabalho de conclusão de curso abordando hotéis que dão a possibilidade dos hóspedes de levar seu cão ou gato, ficando com eles no quarto e sobre os hotéis específicos para os animais.
Foi um trabalho duro, bem árduo mas que valeu a pena, principalmente pelas pessoas que conheci no decorrer da produção do trabalho. Em especial, conheci um senhor, ex-professor da Universidade de São Paulo (meu conterrâneo hehehehe), Antonio F. Costella. Ele escreveu um livro intitulado de "Patas na Europa" que conta a história do cão Chiquinho, que relata sua viagem para a Europa.
Vou publicar a minha transcriação (a reprodução de uma entrevista, segundo a técnica de História Oral). Para quem gosta de animais, vale a pena ver esse livro. Eu tenho o meu, com dedicatória e tudo!
"Desde criança, eu gosto de animais. Só que quando eu era criança, gostava dos animais de uma maneira errada. Punha alçapão, arapuca, etc. para pegar passarinhos. Quando eu era menino, tive sagüis, por exemplo. Não sei de onde arrumei, talvez comprasse de alguém da rua. Houve uma casa que morei no bairro das Perdizes que tinha um terreno muito grande, tinha todo tipo de bicho. Passou do limite no dia que cheguei com um bezerrinho. No fundo, quem cuidava de todos era minha mãe. Depois de muitos anos sem ter bicho, nasceu o Chiquinho na minha casa de Campos do Jordão. A mãe dele, era a cadela do vizinho. Naquele tempo, eu ia para Campos do Jordão só aos finais de semana. Ela resolveu dar cria na minha casa. Foi ai que apareceu o Chiquinho. Às vezes, quando tinha que tratar de um negócio com uma pessoa desconhecida, eu usava o Chiquinho. Quando recebia a pessoa, já deixava tudo programado. Eu recebia o sujeito, conversava com ele e a certa altura da conversação deixava que alguém abrisse a porta para o Chiquinho entrar. Eu ficava observando a reação dele com a pessoa. Se ele embirrasse, eu tomava mais cuidado com ela. Se ele se desse bem, era um indício favorável. É claro que eu não ia decidir as coisas da vida só em função disso, mas considerava importante a reação dele em relação à outra pessoa. Ele era uma espécie de conselheiro de negócios. A primeira vez que viajei com o Chiquinho foi quando vim a primeira vez para São Paulo, depois que ele nasceu. Em Campos do Jordão, acordei com um cachorrinho chorando e fui ver, e era ele que tinha saltado a tábua. Eu o levei para dentro de casa e sentei no sofá e fiquei com ele no colo. Quando pus de volta, a Lili, que era a mãe dele, passou a desconhecê-lo. Como dois dias depois era segunda feira, fiquei com medo que ele lá ia morrer porque ela não ia cuidar dele. Para a Europa, não é que eu quisesse, é que aconteceu. Naquela época, eu dava aula na Cásper Líbero. Em Portugal, estavam montando a faculdade de jornalismo. Então, por força de um convênio, feito com a Cásper Líbero, fui para lá dar aula e na ocasião se colocou o problema do Chiquinho. Ao todo, eu ficaria três meses na Europa, porque queria ir para outros países. Eu falei com o veterinário que confirmou que provavelmente ele morreria se eu não o levasse. O Chiquinho não comia quando a gente não estava em casa, só quando eu e minha mulher estávamos junto com ele. Ele não teve tempo de aprender a ser cachorro, achava que era gente. Eu avisei que iria, mas só se pudesse levá-lo. Fiquei em um hotel diferente do outro hotel onde ficaram os outros professores. Aquele que eles ficaram não aceitava cachorro. Foi em Janeiro de 1989. Para se viajar com um cachorro precisa fazer uma exportação de animal e um atestado do veterinário que informa a situação de saúde. Tive que pegar esse atestado, levar ao ministério da agricultura que foi substituído por outro documento assinado por um veterinário oficial. Com esse documento, fui ao consulado de Portugal para pedir autorização. Na hora do embarque, tinha um veterinário esperando lá no aeroporto, que o examinou de novo. Foi mais complicado a preparação dele para a viagem porque ele nunca tinha dormido em uma casinha. Em Campos, ele dormia dentro de uma biblioteca e em São Paulo, dormia dentro de casa. Eu precisava fazer com que ele ficasse dentro de uma caixa por isso, comprei uma caixa para transporte e tentei colocá-lo e ele não queria. Fiquei tentando ensinar, colocar a comida lá dentro, para ver se ele entrava. Fui fazendo uma familiarização. Na viagem ele teve que ir dentro dessa caixa. No avião, cachorros pequenos com menos de sete quilos podem ir em uma caixa na cabine, mas no caso do Chiquinho que tinha vinte e dois quilos, teve que ir no porão. Quando chegamos a Portugal, ele estava desacordado. Ao todo, foram onze horas de viagem. Na Europa, para evitar complicações, fiz a viagem inteira de carro. Tomei a cautela de levar uma capa para pôr no banco de trás para não dar nenhum problema. Só quando fui atravessar da Itália para a Grécia, precisei utilizar um navio. Os países europeus que fui com o Chiquinho foram Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Na França, nunca encontrei um hotel que não aceitasse cachorro. Lá, existem hotéis que não aceitam crianças, mas não vi nenhum que não aceitasse cachorro. Na portaria, na tabela tem o preço de uma hospedagem de um solteiro e o preço da hospedagem de um cachorro que normalmente é dez por cento do preço do que se paga pela hospedagem de uma pessoa. Há hotéis que dão comida para cachorro. Houve um, por exemplo, que chegaram a me perguntar se ele comia ração ou se ele comia comida para que então preparassem o prato dele. Um lugar complicado para se viajar com cachorro é a Grécia. É muito difícil um hotel que aceite cachorro. Na Grécia, fui obrigado me hospedar no Hilton, hotel de rede internacional. Normalmente, eu não viajo ficando em hotéis tão caros, mas fui obrigado a ir. Em Corfu, não houve nenhum hotel que aceitasse cachorro, exceto o Hilton. Em Atenas, fui direto ao Hilton até descobrir outro hotel que foi mais ou menos por sorte. Era um prédio que tinham reformado pra transformar em hotel. Tinha sido inaugurado no fim de semana, e eles estavam com pouca ocupação dos quartos. Com cachorro ou sem cachorro acharam que valia a pena alugar. Na Espanha, em Oviedo, também não encontrei nenhum hotel que aceitasse cachorro. Encontrei um que tinha garagem subterrânea, que ficava protegido inclusive do frio então, ele dormiu no carro. De uma geral, o negócio é assim, quanto mais atrasado é o país mais difícil é viajar com um cachorro. Quanto mais civilizado o povo, mais fácil você viajar com o cachorro.Houve outras atitudes que eu tive que fazer por causa dele, por exemplo, eu normalmente o levava de manhã e à noite para que pudesse fazer suas necessidades. Em viagem, ia parando o carro. Além disso, quando eu chegava ao destino, eu andava com ele antes dele dormir. Em questão de alimentação, em Portugal, foi mais fácil porque a gente comia todo dia quase no mesmo restaurante. O café da manhã era sempre igual. Houve algumas coisas que a adaptação foi fácil, por exemplo, lá eles usam muito croissant e ele gostou então, todo café da manhã, eu pegava um croissant para dar para ele. Íamos comer no restaurante, e às vezes trazíamos uma marmita para ele. Um pouco de ração tinha levado. Ele nunca tinha comido ração, estava acostumado com comida. Eu tive que acostumá-lo antes da viagem a comer ração. Nos locais turísticos, sendo em áreas externas ele ia junto. Agora, em locais fechados, ele ficava no quarto do hotel. Eventualmente, ele ficava no carro enquanto eu ia ver o que eu queria visitar. Eu não ficava insistindo em levá-lo em lugares que havia muita gente. Dei preferência na viagem, como passeio, as cidades pequenas, exceto Atenas, que eu ainda não conhecia.Viajar com um cachorro tem uma série de dificuldades, o melhor é que ele não viaje. Se ele estivesse acostumado com outras pessoas, além de nós, teria sido melhor que ele ficasse. O cachorro não tem o mesmo aproveitamento da viagem que nós. O gosto dele é estar no lugar dele. No território dele, ele se sente mais feliz. O melhor é não viajar com o animal, que não se crie tanta dependência. A única vantagem em se viajar com um animal é só afetiva, no sentido de não ficar preocupado com ele, ter a companhia dele, saber que ele está bem. É a mesma coisa quando você tem um filho pequeno. De resto é só desvantagem, porque tem a dificuldade de ficar em algum lugar, não poder viajar do seu jeito, tendo que fazer opções, fica limitante. Já idéia do livro “Patas na Europa” surgiu assim: Como nunca tinha ficado em Portugal tanto tempo, como naquela ocasião, eu pensei sobre a viagem. Por outro lado, o Chiquinho em viagem, sempre ficava no banco de trás e sempre dava uma “espiadinha”. Ele sempre ficava no banco de trás, com o queixo no meu ombro e várias vezes, eu pensava “O que será que esse cara está achando do que ele está vendo?”. Era tudo completamente diferente do que ele já viu. Quando comecei a fazer o livro da viagem, juntei essas duas coisas, fazer um livro e de como será que o cachorro viu a viagem. Eu acabei fazendo com o Chiquinho narrasse a viagem, o que me deu margem para um monte de coisas que eu não poderia fazer na primeira pessoa sendo eu como narrador. Em toda a viagem, ele vai falando com fantasmas. Ninguém pode provar que cachorro não vê fantasmas. Foi daí que surgiu a idéia!"